Disputas cristológicas: você já ouviu falar nisso? Mistério Resumo.

As chamadas disputas cristológicas são uma série histórica de polêmicas sobre a natureza de Jesus Cristo, mantidas no seio do Cristianismo durante muitos séculos, desde o início desta religião até a fundamentação das atuais seitas neopentecostais. Essas disputas visam interpretar a vida e obra de Cristo através da Bíblia e de outros relatos históricos (os livros apócrifos do Novo Testamento, tais como os Evangelhos de São Tomé e de Santa Maria Madalena). Para o catolicismo, muitas destas disputas são heresias sem tamanho.


História das disputas cristológicas...
O ano de 325 d.C., no primeiro Concílio de Niceia, assim como no primeiro Concílio de Constantinopla, em 381 d.C., se estabeleceu a doutrina oficial da Igreja católica, que abrangia todo o território do Império Romano. Atingiu o consenso que Cristo era eterno, segundo o credo, uma encarnação divina, (chamada de “homoousios”), que significa “consubstancial com Deus-Pai”, em uma só pessoa, porém com duas naturezas – completamente divina e completamente humana – e propósitos. A partir desse momento, e até o século 7, sucessivos Concílios condenaram doutrinas que diferenciavam com a do credo de Niceia em matérias de ontologia em torno do Cristo.

O período dos quatro primeiros séculos da história do Cristianismo se caracterizou por disputas cristológicas. Os movimentos religiosos minoritários, qualificados como heréticos, que surgiram no segundo milênio nunca voltaram a questionar as explicações estabelecidas sobre a natureza do Cristo, e se concentraram em problemas como a simonia, hipocrisia, a burocracia, a injustiça social e a luxúria da Igreja institucional. Enquanto isso voltou a ser assunto durante a Reforma Protestante com o aparecimento de novos movimentos. Hoje em dia especialmente as Testemunhas de Jeová voltam a questionar as doutrinas cristológicas adotadas no quarto século e pregam o Cristianismo como supostamente pode ter sido no século I.


Principais correntes do conflito e suas características...
Algumas das principais correntes cristãs que interagiram em disputas cristológicas nos primeiros séculos do Cristianismo foram:

1. Adocionismo: é a doutrina segundo a qual Jesus era um simples ser humano, elevado a uma dignidade semelhante à de Deus, logo após a sua morte. Uma visão teológica do Cristianismo primitivo. No pensamento judaico, o Messias era um ser humano escolhido por Deus na realização de seu propósito: conquistar os hebreus e torna-lhes conhecidos entre as nações. Ao mesmo tempo, o adocionismo era psicologicamente interessante para os primeiros cristãos, já que estes eram uma comunidade humilde e atrasada, e, por onde era fácil identificar-se com um herói como Jesus. Sendo humano como qualquer que fosse escolhido (“ungido”) por Deus, e que por onde dava esperança de salvação aos próprios cristãos, tão humildes, ao contrário tendo Deus como seu herói maior.

2. Apolinarismo: afirmava que no Cristo o espírito estava substituído pelo “Logos divino”, com o que implicitamente negava a natureza humana completa do Redentor, um dogma católico. Foi condenado no primeiro Concílio de Constantinopla.

3. Trinitarianismo: é a doutrina oficial da Igreja católica e da maioria das denominações cristãs contemporâneas. O trinitarianismo, ou trinitarismo, prega a doutrina da Santíssima Trindade, segundo a qual Jesus, o Espírito Santo e Deus pai formariam três manifestações harmônicas do “Mistério Divino”, que é Deus.

4. Sabelianismo: pregado por Sabélio, um bispo de Cirene, hoje Líbia. Também chamado de Moalismo, pois fala que Deus se manifesta de modos distintos, mas não possui pessoas.

5. Arianismo: condenado no primeiro Concílio de Niceia, o Arianismo era diretamente oposto ao Apolinarismo; negava a consubstancialidade do filho (Cristo) com o Pai (Deus) e como também a doutrina da Trindade católica. Nesta visão monoteísta, Cristo era uma criatura criada como todas as outras. Favorecida primeiramente pelo Imperador Constâncio Cloro, esta escola foi repelida por Teodósio I. Adotada oficialmente pelo reino visigodo na Espanha até sofrer oposição pelo Rei Recaredo I, que se converteu à fé romana.

6. Marcionismo: foi uma doutrina originada no segundo século, pregada por Marcião, um semignóstico. Ele rejeitava estritamente o Deus do Velho Testamento, Javé, pois o considerava violento e vingativo, uma espécie de tirano que oferecia recompensas materiais para seus adoradores. No entanto, Marcião descreveu o Deus do Novo Testamento, como um Deus perfeito, um Deus de genuíno amor e misericórdia, de bondade e de perdão.

7. Monarquianismo: foi uma doutrina originada no segundo século que não reconhecia que em Deus havia mais de uma pessoa e considerava Jesus como um simples ser humano, no entanto, aceitava seu nascimento como milagroso. Os monarquistas se dividiram em modalistas, a quem afirmaram que Cristo fosse outro homem para o mesmo Deus ou uma emanação do Logos divino encarregado de transmitir sua mensagem, patripasianistas, a quem sustentavam que foi o mesmíssimo Deus-Pai quem havia vindo a terra e havia morrido.

8. Monofisismo / Eutiquianismo: afirma que em Cristo existe uma só natureza, a divina.

9. Nestorianismo: proposta pela primeira vez no quinto século, esta doutrina afirmava que no “Verbo” (Jesus Cristo, tal como está descrito no Evangelho de São João 1:1) existiam duas pessoas: a divina (Cristo, filho de Deus) e a humana (Jesus, filho de Maria). Na cruz, por outro lado, só havia morrido um humano. Para o Catolicismo, em contraste, o Filho era uma só pessoa das três que integram a Trindade. Foi condenada no Concílio de Éfeso. Atualmente os cristãos assírios, no Iraque, mantiveram esta crença. Essa doutrina atualmente é sustentada pela Igreja Assíria do Oriente e pela Fraternidade Rosacruz.

10. Origenismo: proscrita no segundo Concílio de Constantinopla, afirmava a imortalidade da alma humana (o Catolicismo nessa época afirmava que a alma só é criada no momento da concepção biológica). Uma dessas almas havia sido a do Cristo, que se encarnou com o objetivo de proporcionar a salvação aos homens.

11. Priscilianismo: Agostinho, Turíbio de Astorga, Papa Leão Grande e Orósio difundiram a ideia que Prisciliano, um pregador do quarto século baseado nos ideais de austeridade e pobreza, tido como herético por supostamente por negar o dogma da Trindade, a encarnação do Verbo, atribuição que Jesus havia tido um corpo falso e maniqueísta. Essas atribuições levaram a sua condenação no Sínodo de Braga. Em 1885 Georg Schepss descobriu na Universidade de Würzburg alguns manuscritos de Prisciliano e provou que as acusações eram falsas e que a teologia dele modernamente seria considerada ortodoxa.


Principais correntes cristológicas desde a Reforma Protestante...
Desde a Reforma Protestante, podemos citar outras correntes com semelhantes crenças, como, por exemplo, as seguintes:

1. Serventismo: originado pelo teólogo e cientista espanhol Miguel Servet, quem em 1531 publicou “Os erros sobre a Trindade” – obra na qual contradizia as alegadas verdades bíblica do dogma trinitário estabelecido no primeiro Concílio de Niceia que dizia que o Filho é o fruto da união do Logos divino com a pessoa de Jesus, nascido por meio de sua mãe Maria milagrosamente. Portanto, segundo Servet, o Filho não é eterno nem é uma pessoa da Trindade, cuja existência nega veementemente definindo-a como “três fantasmas”, o “cão Cérbero de três cabeças”, e define aos que creem em tal doutrina como “triteístas”.

2. Socinianismo: difundido pelo pensador e reformista italiano Fausto Socino, se inspirou em algumas ideias de seu tio Lélio. Fausto foi um dos italianos entusiasmado pelos escritos de Miguel Servet, que se sentiu movido, a examinar a doutrina da Trindade e concluiu que esta não tinha base na Bíblia. Então forçosamente sensibilizado Fausto, pouco a pouco, decidiu deixar para trás sua vida cômoda como homem da corte, compartilhando suas doutrinas com outros. Segundo a história, perseguido pela Santa Inquisição Católica, Lélio Socini viajou para o norte. Chegando à Polônia, encontrou um grupo de anabatistas apelidados de “Os irmãos que rejeitaram a Trindade”. Assim, ele fixou residência na cidade polonesa de Cracóvia e ali começou a escrever em defesa da causa deles. Fausto Socino foi antitrinitário e considerava que em Deus havia uma única pessoa e que Jesus de Nazaré foi só um homem, nascido milagrosamente por vontade divina. Segundo esta confissão, a missão de Jesus na terra foi transmitir o propósito do Pai tal como havia sido revelada, e após sua execução foi ressuscitado por Deus e elevado aos céus, onde adquiriu a imortalidade e onde reina sobre o mundo desde então.

3. Irmãos poloneses: grupo racionalista polonês antitrinitário que foi precursor do Iluminismo.

4. Igreja Unitária Magiar: fundada em 1568 por Fransisc Dávid, possui congregações na Hungria e Transilvânia. O Unitarianismo Magiar crê que Jesus foi gerado por Deus e glorificado, mas não deve ser adorado.

5. Unitarianismo: na Inglaterra doutrinas antitrinitárias apareceram desde 1548 como John Assheton. George van Parris (1551), Patrick Pakingham (1555), Matthew Hamont (1579), John Lewes (1583), Peter Cole (1587), Francis Kett (1589), Legate (1612), Edward Wightman (1612) foram queimados por professar doutrinas unitárias. Em 1648, negar a Trindade foi considerado crime capital. Mas dois anos depois John Knowles foi um pregador leigo ativo em Chester. Em 1712, Samuel Clarke iniciou uma polêmica ao publicar “Scripture Doctrine of the Trinity” e depois a ideia teria influenciado Isaac Newton. Pregadores congregacionalistas como Joseph Priestley e Thomas Belsham e anglicanos como Theophilus Lindsey organizaram congregações unitárias em 1773 na Inglaterra. Ao mesmo tempo nas colônias inglesas na América do Norte a Igreja Congregacional passava por um cisma, que teve como figuras influentes Charles Chauncy, William Ellery Channing e os presidentes John Adams e John Quincy Adams. Mais tarde, a Associação Unitária Universalista tornou-se não-credal, não-dogmática e próxima do agnosticismo.

6. Testemunhas de Jeová: embora sejam cristãs, não apoiam alguns dos ensinos da cristandade em geral, pois segundo elas, alguns se baseiam nos cultos pagãos do Oriente Médio. Afirmam ainda que Jesus Cristo é o Filho de Deus, que teve uma vida pré-humana nos céus como a primeira criação de Deus, e, que durante seu período na terra foi um homem perfeito, equivalente à alma perdida do primeiro homem, Adão e não Deus Todo-Poderoso em forma de homem. E que ele foi morto numa estaca de tortura, como supostamente eram executados os criminosos comuns no Império Romano e voltou à sua primeira condição espiritual quarenta dias depois de sua ressurreição e que reina nos céus atualmente.

7. Pentecostais do nome de Jesus: surgido em 1913, acredita que Deus possui três manifestações (Sabelianismo), sendo os termos Pai, Filho e Espírito Santo meros nomes.


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