Branco e reluzente, o caixão adornado de flores, balões e recordações é carregado por quatro jovens escoltados por uma lenta procissão de familiares que percorre os corredores do cemitério público de Navotas (Filipinas), esquivando-se do lixo, das crianças e dos galos que cruzam livremente a caravana fúnebre. Há alguns dias, um jazigo ocupado há cinco anos foi limpo para receber o ocupante do caixão branco. Terminado o funeral, uma camada de tijolos garantirá a estadia do finado ao menos pelos próximos cinco anos.
"Os visitantes e moradores têm uma boa relação. Eles só querem que as tumbas sejam respeitadas e que ninguém as use como banheiro", conta um dos coveiros de Bagong Silang, assembléia do bairro que ocupa o cemitério.
A avalanche demográfica se concentra na Ásia, e a metrópole de Manila (Filipinas) - uma conurbação de dezesseis cidades - já apresenta 21 milhões de habitantes. Tanto a imigração de camponeses para as cidades como a expulsão das populações mais pobres do centro para as periferias está transformando as metrópoles, levando algumas comunidades a tomar medidas drásticas, como viver em um cemitério, por exemplo.
O cemitério público de Navotas - uma área costeira dentro desse quebra-cabeças urbano conhecido como Metro Manila ou Grande Manila - está recebendo comunidades muito pobres que vêem no cemitério todo um ecossistema que lhes permite superar parcialmente a pobreza, a desigualdade econômica e as ínfimas possibilidades de adquirir uma casa própria em um país que alcançou os 100 milhões de habitantes em 2014.
Dirigido por Zena Merton, o curta-metragem Bagong Silang (2011) (segue um trecho abaixo) mergulha na vida diária desta comunidade composta atualmente por 350 famílias que ocupam os corredores do cemitério, a meio caminho entre a periferia da metrópole filipina e a costa, onde os habitantes mais antigos construíram lentamente seus abrigos sobre palafitas para se esquivar do lixo jogado no canal onde crianças brincam para passar o tempo enquanto seus pais trabalham no que podem.
"As casas foram construídas principalmente com papelão, as paredes são de sacolas plásticas. Se você tocar a parede, tudo vem a baixo", comenta um dos entrevistados.
A pesca, o comércio informal e a limpeza dos jazigos e lixeiras são as principais ocupações nessa comunidade. Por exemplo, por 70 pesos filipinos (US$ 1,56), os coveiros limpam as tumbas e as fecham com tijolos para os novos ocupantes. Mesas de sinuca improvisadas compartilham o espaço com as covas e tumbas enquanto velhas cabines de fliperama entretêm as centenas de crianças no país com a terceira maior taxa de natalidade da Ásia: 25 nascimentos a cada mil habitantes, o dobro do Uruguai e o triplo da Alemanha.
Arch Daily.
0 Comentários :
Postar um comentário